Vida e obra de Naná Vasconcelos são iluminadas em alentada fotobiografia que refaz o percurso do percussionista
16/02/2025
(Foto: Reprodução) Capa da ‘Fotobiografia Naná – Do Recife para o mundo’
Deborah Feingold
♫ OPINIÃO SOBRE LIVRO
Título: Fotobiografia Naná – Do Recife para o mundo
Autor: Augusto Lins Soares (organização)
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♬ Naná Vasconcelos é caracterizado por Milton Nascimento como um “ser iluminado” ao fim do texto escrito por Milton para a Fotobiografia Naná – Do Recife para o mundo.
No texto, Milton – ele próprio outro ser que ilumina a música brasileira há 60 anos – relembra o dia em que o percussionista pernambucano bateu à porta da casa em que o cantor morava na zona sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ). “Vim do Recife para tocar com você”, anunciou Naná quando Milton abriu a porta. Dito e feito.
Mesmo sem aviso prévio, Naná veio do Recife para o Rio e tocou mesmo com Milton no terceiro álbum feito pelo cantor para o Brasil, Milton, lançado em 1970.
Começou ali a conexão musical e espiritual entre esses dois seres de luz. Tanto que, por mérito, o texto de Milton abre a fotobiografia organizada pelo jornalista recifense Augusto Lins Soares e lançada pela CEPE editora neste mês de fevereiro de 2025.
Ao longo de 240 páginas preenchidas com sete textos complementares e com mais de 200 fotos tiradas por cerca de 50 fotógrafos, o livro refaz o percurso de Juvenal de Holanda Vasconcelos (2 de agosto de 1944 – 9 de março de 2016), percussionista genial e pioneiro que inseriu o berimbau no universo do jazz e que levou para o mundo “o Brasil que o Brasil não conhece”, como Naná costumava se referir a si próprio.
Incrementada com reproduções de obras em que 12 artistas pernambucanos retratam Naná sob a ótica visual das artes plásticas, a fotobiografia chega ao mercado com capa que expõe o percussionista em foto de Deborah Feingold.
Fruto de pesquisa iniciada por Augusto Lins Soares em junho de 2023 e finalizada em outubro de 2024, com base em análises do acervo do artista e de bancos de imagens públicos e privados, o livro sai no rastro das comemorações dos 80 anos de nascimento do músico – festejados em 2024 com exposição realizada em São Paulo (SP) de julho a outubro – e tem o aval de Patrícia Vasconcelos, viúva de Naná e herdeira do acervo do artista.
A fotobiografia expõe imagens raras como a que flagra Naná tocando nos anos 1960 com a Banda Municipal do Recife, como a foto de 1968 que mostra o percussionista tocando berimbau no programa Bossa 2, da TV Jornal, a convite de Edy Souza (futuro Edy Star), e como a foto de 1973 que eterniza o percussionista tocando o mesmo mítico berimbau no Mercado Modelo, em Salvador (BA), na presença do escritor baiano Jorge Amado (1912 – 2001).
A fotobiografia é repleta de fotos tiradas fora do Brasil, já que Naná Vasconcelos rodou o mundo ao alcançar projeção em escala planetária a partir da década de 1970 em escalada internacional iniciada pelo México.
Textos consistentes ajudam a o leitor entender a rota internacional seguida por Naná Vasconcelos, ainda que o Recife (PE) tenha sido sempre o epicentro da arte maior do artista, cuja vida e obra são iluminadas nesta fotobiografia editada com o status de livro de arte.
Naná Vasconcelos (1944 – 2016) toca berimbau em 1968 no programa ‘Bossa 2’, da TV Jornal
Acervo pessoal Edy Star / Divulgação CEPE Editora